O heavy metal e os jogos ainda são os causadores da violência
Não demorou muito. Face a um novo episódio de horror e violência com os ataques de 13 de novembro em Paris, vários comentadores e jornalistas apressaram-se a encontrar um bode expiatório fácil. E os videojogos e o heavy metal ainda são bons alvos.
É uma história antiga e que se repete sempre: a culpa das crises da sociedade é atribuída às coisas novas e desconhecidas (pelos mais velhos). Recentemente têm sido os videojogos, antes disso foi o heavy metal. Mas esta atribuição de culpa pode ir sendo encontrada novamente à medida que recuamos no tempo: dos mais óbvios, como o rock and roll e a televisão, aos mais antigos e claramente ridículos quando vistos na perspetiva dos nossos dias, como a valsa ou os romances de cordel.
Com o apelo dos títulos sonantes e das explicações fáceis, muitos órgãos de comunicação social noticiaram que o ataque no Bataclan estava relacionado com o facto de estar a ocorrer um concerto de heavy metal (não estava) e que os ataques teriam sido planeados e combinados com recurso à PlayStation 4 (não foram, pelo menos que se saiba até ao momento).
O heavy metal
Eis um momento em que a TVI 24 pergunta se será coincidência um dos ataques ter sido realizado num concerto de heavy metal, captado e partilhado por um utilizador no Facebook:
E outro em que a CMTV afirma que a banda Eagles of Death Metal toca músicas dos Eagles em versão death metal, captado e partilhado por outro utilizador:
Vamos esquecer a distinção entre heavy metal e death metal e dizer apenas que ninguém se deu ao trabalho de ir verificar que os Eagles of Death Metal são uma banda de rock.
Vejam uma das atuações deles, entretanto partilhada pela CMTV:
Mas a situação mais caricata até foi esta em que o logo dos rebeldes de Star Wars foi confundido com a bandeira o estado islâmico:
Habla @Gastronfo: Cosas que aprendí el día en que (casi) creé un Trending Topic https://t.co/Qhh01gdok9 pic.twitter.com/1JFMDcQrsD
— Sabemos (@sabemos) November 17, 2015
Valeu a pronta e honesta assunção do erro pelo jornalista.
Os videojogos
No meio desta confusão os videojogos até escaparam. Os grandes títulos não foram de que os terroristas tinham usado os videojogos para treinarem os ataques, mas antes que teriam usado a aplicação de mensagens da PlayStation 4 para planear os ataques.
Isto até é possível, mas não foi confirmado. Os títulos só apareceram poque o ministro belga Jan Jambon tinha uns dias antes afirmado num evento que plataformas como a PlayStation 4 são as novas ferramentas de recrutamento usadas pelos terroristas, e que são muito mais difíceis de espiar que os meios tradicionais.
Passados dois dias já se encontram inúmeros órgãos de comunicação a esclarecer que não foram encontradas evidências da utilização da PlayStation na preparação dos ataques.
As soluções fáceis
Na resposta a ataques e massacres já foi muitas vezes sugerido que se deviam proibir os videojogos violentos. Mas a situação parece ter evoluído. A reação agora vai mais no sentido de proibir a privacidade: Após os ataques de 13 de novembro vários políticos exigiram a aprovação de leis que permitam aos estados limitar o direito dos cidadãos à encriptação dos seus dados e comunicações e ao mesmo tempo facilitar o acesso das forças de segurança a essas informações.
Tal como proibir os jogos violentos, esta é uma solução tentadora. Uma solução fácil para um problema complexo. Como se fosse assim tão simples...