Internados por causa dos videojogos
É a manchete principal da edição de hoje do Jornal de Notícias: Menores internados por causa do vício dos videojogos. No corpo da notícia seguem-se descrições aflitivas de jogadores que pura e simplesmente não dormem e de "viciados que se privam de ir à casa de banho durante 20 horas".
"O problema já atingiu tamanha proporção que o Serviço Nacional de Saúde já procura dar-lhe resposta", diz o jornal. Qual é então a real dimensão deste flagelo?
20 jovens internados em 7 anos.
Leram bem. Não são 20 mil jovens... não são 20 por mês... nem sequer são 20 por ano. Como termo de comparação muito conservador, a Lisboa Games Week teve cerca de 50.000 visitantes no ano passado. 20 pessoas são 0,04% desse já pequeno subgrupo de fãs de videojogos em Portugal.
Ainda assim, um problema de saúde é um problema de saúde. Por muito poucos que possam ser os casos de um particular padecimento, quem dele sofre deve ser acompanhado e tratado. Este problema é real. Apenas não me parece um caso de dimensão e gravidade suficiente para fazer manchete de um jornal.
Vejamos: mais grave é o vício (ou hábito) entre os jovens das apostas a dinheiro no jogo Placard, da Santa Casa da Misericórdia, que até tem uma "Escola de Apostas". O mesmo que ainda esta semana levantou suspeitas de manipulação de resultados.
Mas sobretudo - e este é o principal ponto a reter - nestes casos de vício patológico os videojogos não são a causa do problema: são um sintoma. Um sintoma que algo de mal se passa com a vida social, familiar ou mental dos jovens afetados. Os videojogos são um refúgio e a sua componente online um escape a problemas reais e mais profundos.
Por isso assusta-me a ideia de clínicas para tratar viciados em videojogos. Porque se o foco do "tratamento" são os videojogos, então estão a passar completamente ao lado do problema e não estão a resolver nada.