E3: Os bons, os maus e os vilões de 2017
A maior feira de videojogos do mundo decorreu durante a semana passada e, terminado o evento, todas as publicações da especialidade se dedicam à tradição de decidir "quem ganhou a E3". E eu também.
A E3 é aquela altura do ano em que são feitos os maiores anúncios, por parte das maiores empresas da área dos videojogos. Novas consolas, novos jogos, novas sequelas de velhos jogos... é tipicamente na feira de videojogos de Los Angeles que são anunciados ou mostrados pela primeira vez. E com a maioria dos órgãos de comunicação social, mesmo os generalistas, a prestar atenção durante uma semana, é realmente importante para as marcas causar uma boa impressão. Ou melhor, causar uma boa impressão ainda maior que a concorrência.
E com a Nintendo ainda em fase de lançamento da Switch, a Microsoft a preparar-se para lançar uma versão mais potente da Xbox e a PlayStation claramente na liderança em número de vendas da atual geração de consolas, o vencedor acabou por ser... uma editora que faz jogos para todas.
Os "bons": Ubisoft e Nintendo
Se tivesse de eleger um único vencedor da E3 deste ano seria claramente a Ubisoft. Na sua conferência de imprensa mostraram de tudo um pouco e tudo o que mostraram foi muito bom.
Logo a abrir as hostilidades mostraram Mario + Rabbids: Kingdom Battle, um novo jogo em parceria com a Nintendo que funde os universos de Super Mario e dos Rabbids num jogo de estratégia por turnos. Não há nada na frase anterior que não seja totalmente inesperado (não fosse terem aparecido uns rumores uns dia antes). E apesar da ideia de Mario e amigos a disparar armas em combates com aspeto cartoonesco não fazer nenhum sentido, a demonstração que se seguiu deixou toda a audiência de água na boca por este jogo.
A partir daí a Ubisoft foi saltando de boa apresentação em boa apresentação, incluindo as sequelas dos seus grandes sucessos Far Cry e Assassin's Creed e passando por novidades absolutas como o jogo de piratas cooperativo Skull and Bones. Para terminar, mostraram pela primeira vez o já mítico Beyond Good and Evil 2, que anda a ser feito há já 14 anos. E foi provavelmente o melhor trailer de todo o evento.
Já a Nintendo, voltou a fazer a sua apresentação na forma de um vídeo pré-gravado. Mas isso não a impediu de causar boa impressão, com títulos como o já mencionado Mario + Rabbids: Kingdom Battle, um olhar mais detalhado sobre o novo Super Mario Odyssey e inúmeras novidades para a sua portátil 3DS. As posteriores demonstrações destes jogos no recinto da feira confirmaram a qualidade das propostas da Nintendo, sendo que quase todas as opiniões foram positivas.
Os "maus": Microsoft, PlayStation, Bethesda
Maus é relativo. Não houve nada de fundamentalmente errado com as apresentações da Microsoft e da PlayStation. Mas ainda assim ficaram ambas muito abaixo das (elevadas) expetativas.
Por um lado a nova Xbox One X, que é a mais potente consola de sempre e promete jogos em resolução 4K "a sério", mas que apesar de muitos jogos mostrados não chegou a ter nenhum exclusivo "obrigatório" que justificasse o preço de 500$ da nova consola. Jogos como Assassin's Creed: Origins e Anthem, que tiveram grande protagonismo na apresentação da One X, nem sequer estavam a correr no tal 4K "a sério" que é um dos principais argumentos da consola.
E depois ainda houve inúmeros anúncios de exclusivos com um críptico "Console launch exclusive" (exclusivo no lançamento da consola), que não se percebe afinal o que quer dizer. É exclusivo só no mês de novembro? Também irá ser lançado noutras consolas? A verdade é que a Microsoft apregoou 22 jogos exclusivos para a Xbox e eu não consigo perceber quais são.
A PlayStation, por seu lado, pareceu completamente desinteressada pela sua própria apresentação.
Basicamente, Shawn Layden - presidente da Sony Interactive Entertainment America - apareceu em palco a dizer "vamos ver uns vídeos" e seguiu-se uma hora de trailer atrás de trailer, de jogos já conhecidos, sem nenhuma informação adicional, sem comentários dos produtores, sem nada... A grande novidade da PlayStation - uma nova linha de jogos para a PS4 que podem ser jogados usando o telemóvel - foi anunciada em vídeo antes do evento.
Não fosse a excelente demonstração do novo jogo do Homem-Aranha e o interesse seria quase zero. Embora, ressalve-se por ser digno de nota, tenham mostrado bastantes jogos para o PlayStation VR, o que significa que a realidade virtual na PlayStation está de boa saúde.
Mas má mesmo foi a apresentação da Bethesda.
Basicamente mostraram uma sequela de Wolfenstein, umas adaptações de Doom e Fallout para realidade virtual, mais uns remakes do velhinho Skyrim e, sobretudo, novas formas de cobrarem dinheiro aos jogadores. Tem sido unanimemente declarada pelos especialistas como a pior apresentação da feira e é difícil discordar.
Os "vilões": Devolver Digital e EA
Se "maus" é relativo, os vilões que apresento não o são pela negativa mas sim pela forma dissonante como se apresentaram. São os que primam pela diferença...
A Electronic Arts deu que falar sobretudo pela utilização extensa de Youtubers como apresentadores na sua conferência. É um pouco como pedir a um eletricista para arranjar um cano roto e notou-se. Muitos estavam claramente fora do seu ambiente natural, a tentar lembrar-se das suas falas no nervosismo de um evento em direto. E a culpa não é deles. A responsabilidade será de quem contratou o eletricista para arranjar a canalização.
Mas ao menos houve um esforço da Electronic Arts para fazer algo diferente e mais variado, mostrando os jogos a serem jogados. E isso merece um elogio.
E também apresentaram A Way Out, um dos jogos mais originais e promissores e um dos meus preferidos de todo o evento.
Agora, absolutamente fabulosa foi a apresentação da Devolver Digital.
"Quem são esses?" Excelente pergunta! Quando a editora de títulos independentes anunciou que também faria uma apresentação na E3 todos os profissionais do meio estranharam. Vão apresentar o quê? Nem sequer são associados da ESA, a entidade organizadora do evento, pelo que costumam apenas alugar um espaço público ao lado.
Mas eis que a Devolver se sai com uma apresentação pré-gravada, ostensivamente encenada, a ridicularizar todas as encenações e palavreado comercial das habituais apresentações das grandes marcas. "Os modelos de negócio anti-éticos de amanhã, hoje!" foi o mote, com um público histérico, jogadores a atirar dinheiro ao ecrã, braços decepados, cabeças a explodir e alguns trailers dos seus jogos pelo meio.
O resultado foi uma das conferências mais faladas da E3 deste ano e uma visibilidade muito acima do normal para uma editora de títulos independentes no meio dos gigantes da indústria.
E vocês? Acompanharam o evento? Quais os jogos que gostaram mais? Partilhem nos comentários.