Chegou a nova Xbox One S! E agora?
A Microsoft acaba de lançar um novo modelo da Xbox One. O difícil é perceber o que é que isso quer dizer.
Os meses recentes foram plenos de rumores sobre a possibilidade da Microsoft e da Sony lançarem versões mais poderosas das suas atuais consolas - a Xbox One e a PlayStation 4.
No início de março foram declarações do responsável da Xbox, no sentido de que seria bom que o hardware das consolas fosse evoluindo constantemente e ficando mais pontente, como acontece com os telemóveis. Na altura expliquei porque é que achava isso uma má ideia.
Mas eis que ainda em março surgem vários rumores de que a Sony estaria a preparar uma PlayStation "4 e meio", mais potente que a atual PS4. Achei que não, de certeza que não seria isso. No meu entender o que a Sony e a Microsoft iriam seguramente lançar eram novos modelos das suas consolas com pequenas optimizações e a capacidade para ler os novos filmes Blu-Ray em 4K. Basicamente a(s) mesma(s) consola(s), com pequenos retoques, algo que não é novidade: a PlayStation original teve um modelo mais pequeno chamado PSOne e a PS2 e PS3 tiveram versões "slim" (mais magras que as originais).
Afinal eu estava simultaneamente certo e errado.
Estava certo porque a Microsoft acaba de lançar a Xbox One S, que é basicamente uma Xbox One mais pequena e que lê Blu-Rays 4K. Em termos de jogos as suas capacidades são praticamente as mesmas que o modelo anterior: os jogos não correm em 4K mas sim em full HD, embora passem a permitir o HDR - High Dinamic Range -, que permite uma paleta de cores e nível de brilho da imagem muito superiores. O 4K e o HDR só estão disponíveis em televisores recentes.
E estava errado porque a Microsoft também anunciou em junho uma outra nova Xbox One chamada Scorpio, essa sim com muito maior poder de processamento e com a capacidade de correr jogos em 4K. A Scorpio sai em 2017 e será a consola mais poderosa de sempre.
E o que é que isto tudo quer dizer?
A verdade é que não sei. E parece que a Microsoft também não.
A nova Xbox One S é uma boa proposta de valor: pelo mesmo preço da Xbox One original temos direito a um novo modelo melhorado, sendo expectável que o modelo original baixe de preço até que eventualmente se esgote nas lojas. Só que...
A nova Xbox One S virá em 3 modelos, cada um com uma capacidade de armazenamento diferente. E para já só está disponível o modelo mais caro, de 399€. São 100€ mais do que o preço da Xbox One original, que ainda se pode comprar nas lojas. Porquê gastar mais 100€ agora, quando vão sair modelos mais baratos? E a história diz-nos que 100€ é uma diferença muito grande no preço de uma consola.
Por outro lado, porquê comprar uma Xbox One S agora quando daqui por um ano vai sair "a consola mais poderosa de sempre"? Quer já se tenha uma Xbox One ou não, a recém-lançada Xbox One S parece ser uma boa consola que não vale a pena comprar neste momento.
E quando sair a potente Scorpio? Será que vai valer a pena comprá-la ou será preferível esperar pelo "modelo seguinte", que vai certamente ser ainda mais potente?
É este o dilema recorrente que a estratégia da Microsoft nos coloca. A Xbox One S podia ser uma proposta simples: "Toma lá uma versão melhorada da consola pelo mesmo preço". Simples! Mas em vez disso é um "Toma lá uma versão melhorada da consola por mais 100€, mas ainda podes comprar a versão anterior mais barata, ou a nova versão com menos armazenamento pelo preço da original daqui por umas semanas, e, já agora, daqui por um ano podes comprar uma consola muito melhor".
E para além disto tudo ainda temos o anúncio de que os jogos da Xbox One (pelo menos alguns) também poderão ser jogados em qualquer PC com Windows 10.
Os dados estão lançados! Vamos ver como o mercado se comportará e se a jogada vai beneficiar ou prejudicar a Microsoft.
E quanto à PlayStation?
Oficialmente a Sony ainda não deu detalhes sobre o novo modelo da PlayStation 4 - a Neo -, mas confirmou que existe e que vai correr jogos a 4K. Muitas das preocupações que exponho acima poderão facilmente aplicar-se à Sony, mas vamos ter de esperar para ver como abordam esta estratégia.
Para já, gabo a coragem da Microsoft em "agitar as águas" e a inteligência da Sony em não desviar a atenção dos consumidores para lá do que existe "aqui e agora". A Xbox tem estado a ficar para trás em relação à PlayStation na corrida dos números de vendas. Por isso a Microsoft tem de jogar um trunfo. A Sony para já apenas tem de defender a sua posição e preparar terreno para os óculos de realidade virtual que vai lançar no último trimestre deste ano.
Com todas estas (r)evoluções, 2017 poderá tornar-se num ano entusiasmante para a indústria dos videojogos. Sobretudo se nos lembrarmos que, para além disto tudo, no próximo ano a Nintendo vai lançar uma nova consola, da qual ainda nada se sabe.
Jogar videojogos pode ser uma experiência emocionante. Mas assistir à evolução desta indústria por vezes também é.