A Nintendo pariu um gato
Depois de meses de suspense sem nenhuma informação concreta sobre a nova consola da Nintendo - a NX - eis que o anúncio foi feito hoje com um mero vídeo de 3 minutos que pouco explica. A nova consola chama-se Nintendo Switch e é um misto de portátil e consola de sala. Fiquei desapontado mas, tal como em tudo o que diz respeito à Nintendo, não convém dar já esta aposta como perdida.
Na verdade, falta de detalhes à parte, o desapontamento que senti foi em grande parte pela forma como o anúncio foi feito. Uma espécie de trailer alargado, sem qualquer texto ou voz a explicar a novidade e com uma música de fundo que só dá vontade de furar os tímpanos (se bem que esta última parte é uma questão de gostos pessoais).
Não houve declarações. Não houve palavras a partilhar a visão ou ideia de fundo da consola. Pelo vídeo ficamos apenas a saber que é uma espécie de tablet com comandos destacáveis e que se pode ligar à TV. E o press release divulgado pouco acrescenta: uma lista de estúdios que estão a preparar jogos para a consola e duas frases do presidente da Nintendo of Europe. Citando:
“Espero que este primeiro olhar sobre a Nintendo Switch permita aos fãs imaginarem o potencial da liberdade para jogarem onde, quando e como quiserem”, declarou Satoru Shibata, presidente da Nintendo of Europe. A isto acrescentou: “As nossas equipas, tanto na própria Nintendo como noutros estúdios de produção, estão a trabalhar arduamente no sentido de proporcionar experiências únicas e novas para todos e estamos desejosos de poder revelar ainda mais”.
Mas a proposta até é bem interessante. Não só a consola pode funcionar em casa, ligada à TV e usando um comando "normal", e transformar-se imediatamente numa portátil ao ser removida da sua base, sem sequer ter de parar o jogo, como ainda pode ser usada na sua forma portátil por dois jogadores em simultâneo (cada um com o seu comando). E ainda podem ser ligadas em rede várias consolas Switch para partidas multijogador em qualquer lugar.
Há potencial para a Nintendo Switch. Mas o seu anúncio sem pompa nem circunstância quase faz parecer que a Nintendo não acredita no seu próprio produto, ou no mínimo que não lhe dá muita importância.
A anterior consola da Nintendo - a Wii U - teve mais atenção no seu lançamento e mostrou muito mais potencial para criar novas experiências de jogo. Ainda assim não conseguiu ser um sucesso de vendas. Por esse prisma o futuro da Switch não parece risonho. Mas ainda falta muito tempo até o lançamento da consola em Março. Podem ainda aparecer esses jogos e experiência diferenciadoras - ou, quem sabe, até um fenómeno como o Pokémon Go - que gerem o burburinho e interesse capaz de levar a Switch ao sucesso. E a Nintendo é exímia em criar experiências de jogo de topo.
E depois há o preço, que ainda não conhecemos. Será muito diferente tentar vender a Switch ao preço de uma consola de topo ou ao preço de um tablet económico.
Ainda fica muito por descobrir sobre a Nintendo Switch e quero muito acreditar que vai ser espetacular. Mas a expetativa de seis meses sem nenhuma informação culminou num anúncio pouco entusiasmado e pouco entusiasmante. Não diria que "a montanha pariu um rato", pois esta Switch tem um ar bem simpático e interessante. A Nintendo pariu um gato - animal muito mais bonito e fofo. Mas estávamos à espera assim de um dragão ou de um dinossauro. Ou um unicórnio. Ou ao menos um cavalo pintado.
Só que este gato ainda tem tempo de se tornar um tigre. E mesmo que isso não aconteça, toda a gente gosta de gatos.