Esta não é a nova consola da Microsoft
A "guerra das consolas" está de volta. Em novembro serão lançadas as novas consolas da Sony e da Microsoft, todas prometendo um salto de gigante na qualidade gráfica e desempenho dos videojogos. Só que, no caso da Microsoft, o novo hardware é o menos relevante.
Em ano de pandemia, os anúncios e informações sobre a nova geração de consolas têm-nos chegado de forma fragmentada. Tipicamente, teríamos quase toda a informação relevante tornada pública em junho, na E3. É na maior conferência de videojogos do mundo que estamos habituados a ver as grandes revelações como o aspecto, as especificações técnicas, as datas de lançamento e os preços. Mas este ano, sem a realização de eventos físicos, esses anúncios ficaram adiados. O que não se esperava era que fossem adiados até tão tarde.
Só durante setembro, a meros 2 meses do lançamento, é que ficámos a conhecer o aspecto e o preço das novas consolas. E mesmo assim, há muitos pormenores do funcionamento destas novas máquinas que não são ainda conhecidos. Aparentemente, ainda ninguém fora das respetivas empresas teve oportunidade de experimentar estas consolas. Mesmo os jornalistas das publicações especializadas em videojogos só conhecem ainda o que viram nos trailers e apresentações online. Isto quer dizer que, a 2 meses do lançamento, é quase impossível saber qual das novas consolas será a melhor escolha.
Mas é aí que as coisas se tornam ainda mais diferentes do habitual. Sim, as "guerras" de consolas costumam resumir-se aos fãs de cada marca a degladiarem-se online sobre qual é a mais potente ou qual tem os melhores jogos, bem como a gozar com eventuais desaires de comunicação em que as marcas por vezes incorrem. Mas não. Este ano, pelo menos no que diz respeito à Xbox, as características das duas novas consolas não são o mais relevante.
A proposta da Microsoft é diferente.
A gigante americana vai lançar não uma mas duas novas consolas. São dois modelos da nova Xbox: a Series X, mais potente, e a Series S, mais barata mas mantendo as principais evoluções tecnológicas da sua "irmã". E com isto a Microsoft consegue posicionar-se face à nova PlayStation 5 simultaneamente como a mais potente (pelo menos em teoria) e como a mais barata. Apenas não é as duas coisas em simultâneo.
Mas eis a parte de que talvez não se tenham apercebido: não precisam de uma consola.
A Microsoft fornece um dos mais populares serviços de subscrição de videojogos. O Game Pass permite, por uma pequena subscrição mensal, descarregar e jogar qualquer jogo de um catálogo generoso. É uma espécie de Netflix mas com videojogos. E onde o Game Pass se destaca de serviços semelhantes é no facto da Microsoft disponibilizar os seus jogos no serviço assim que são lançados, quando outros geralmente apenas disponibilizam jogos mais antigos.
O Game Pass permite jogar os títulos disponíveis nas consolas Xbox ou no PC. Mas recentemente foi disponibilizada uma nova forma de jogar: por streaming. Jogar por streaming significa que o jogo está a correr nos servidores da Microsoft e o jogador apenas vê uma emissão em direto do jogo que pode controlar com o seu comando. Basicamente, deixou de ser necessária uma consola ou um PC potente para jogar, bastando um telemóvel e uma boa ligação à internet. De repente, para jogar os títulos da Microsoft e outros, só é preciso um telemóvel Android e um comando.
Mas a história não termina aqui.
Na passada semana a Microsoft anunciou a aquisição da ZeniMax. O nome pode não dizer muito, mas a ZeniMax é dona de algumas das maiores produtoras de videojogos, com títulos campeões de vendas como Doom, The Elder Scrolls, Fallout ou Wolfenstein. Para terem uma ideia, com um valor de 7.500 milhões de dólares, esta é a 2ª maior aquisição feita na indústria dos videojogos. Com este negócio, a Microsoft comprou 8 estúdios de desenvolvimento. E todos estes jogos passarão a fazer parte do serviço Game Pass mais cedo ou mais tarde (na prática a Microsoft comprou 2 jogos exclusivos da PlayStation 5, pelo que estes não devem aparecer no serviço tão cedo).
De repente a proposta de valor da Microsoft torna-se muito mais apetecível. E não é por causa das consolas que vai lançar.
Tal como a Nintendo tem tido sucesso com as suas consolas por não entrar na guerra das especificações e, em vez disso, apresentar conceitos únicos e inovadores, também a Microsoft está agora a enveredar por uma estratégia diferenciadora. Pode parecer que se vai iniciar uma luta entre a PlayStation e a Xbox sobre quem consegue vender mais consolas, mas para a Microsoft há outras formas de captar o interesse dos jogadores. É o que a própria Microsoft vem dizendo já há algum tempo. Só que o que parecia uma desculpa de quem tem estado a vender menos do que a concorrência, parece agora uma estratégia bem concreta e com potencial vencedor.
É bem possível que nos próximos tempos haja não um, não dois, mas sim três vencedores da guerra das consolas: a continuação da popularidade da Nintendo com a Switch, a continuidade da força da marca PlayStation, com um número sólido de vendas da PS5, e a continuação do crescimento da Xbox nos serviços por subscrição, com o Game Pass cada vez mais rico em conteúdo e praticamente sem barreiras à entrada.
A guerra das consolas nunca foi tão interessante.