Morreu a consola Nintendo com menos vendas de sempre
Se vendas fossem sinónimo de qualidade as Páginas Amarelas seriam uma obra prima de literatura. Nos videojogos, tal como na literatura, cinema e outras indústrias criativas, não existe necessariamente paralelo entre a qualidade intrínseca de um produto, a opinião dos especialistas e o sucesso entre o público. Exemplo recente: a Wii U.
Com uma nova consola a ser lançada já em março, a anterior consola da Nintendo deixa de ser produzida. Parece natural, mas não é necessariamente assim. Se uma consola continua a ser um sucesso de vendas, pode perfeitamente continuar no mercado mesmo depois de um novo modelo ser lançado. A Wii U deixou de ser produzida porque vende pouco. Quanto exatamente? Nada como um aborrecidíssimo gráfico em Excel para o mostrar:
Os números são da própria Nintendo (o gráfico fui eu que fiz) e mostram que a Wii U é a consola menos vendida de sempre da empresa nipónica. Estamos aqui a ignorar o Virtual Boy, que vendeu tão pouco que a Nintendo nem o inclui na lista. Só que o Virtual Boy era uma tentativa falhada para criar um sistema de realidade virtual (trans)portátil na década de '90. Simplesmente não existia tecnologia para isso.
Só que, enquanto o Virtual Boy era francamente mau e o seu fracasso tenha sido natural, a Wii U é uma excelente consola com jogos fantásticos.
O que correu mal? Muito simplesmente, é difícil perceber o valor, o interesse, a experiência única que é jogar numa consola com dois ecrãs. Parece confuso. Parece que a consola é uma espécie de tablet (não é, isso é só o comando).
E depois faltaram mais jogos.
Uma crítica habitual à Wii U era que tinha poucos jogos e isso não era apenas uma "impressão" que as pessoas tinham. Voltando aos gráficos em Excel, e usando os números da Nintendo, a Wii U teve de facto muito poucos títulos:
Nota: Os números são a soma dos títulos lançados em 3 territórios distintos - Japão, américas e outros -, tal como reportado pela Nintendo. Um título lançado nos 3 territórios está contabilizado 3 vezes. As vendas digitais (downloads) não estão contabilizadas.
Notam o padrão?
É certo que quantidade não é sinónimo de qualidade. E não é o único fator a afetar as vendas. Isto é sobretudo um ciclo vicioso: menos consolas vendidas significa menos produtores interessados em fazer jogos para a consola; e menos jogos significa menos interesse em comprar essa consola.
Mas pelo menos para mim isto não é um adeus à Wii U. A minha continua ligada à TV. Continua a ser usada com frequência. É a consola de eleição quando há "miudagem" lá em casa. E foi a responsável pelas mais inovadoras e refrescantes experiências com videojogos que tive nos anos recentes. Foi uma excelente criação da Nintendo. Merecia ter tido melhor sorte.
A Nintendo, por seu lado, tem que olhar para o futuro! A Switch chega daqui por um mês e tem dado que falar. Parece estar numa posição melhor que a sua antecessora e a gerar interesse. E, sobretudo, a Nintendo está de boa saúde em termos financeiros e em termos de criatividade.