Não, a Sony não vai lançar uma PlayStation "4 e meio"
Foi notícia há duas semanas e voltou a ser esta semana. Rumores dizem que a Sony vai lançar uma versão mais potente da PlayStation 4 ainda este ano.
Não vamos pegar no contrassenso de "rumores serem notícia". Sejamos honestos: onde há fumo há fogo. E apesar das redes sociais e da crise económica que afeta o setor jornalístico terem permitido que nos últimos anos se propaguem de forma fácil e frequente verdadeiras falsidades, ainda há rumores que têm um fundo de verdade.
Neste caso, três órgãos de comunicação social distintos, incluindo o Wall Street Journal, dizem ter confirmado o boato.
E eu acredito. Mas só em parte.
Resumidamente, o boato diz que a Sony vai lançar uma nova versão da PlayStation 4 capaz de gráficos em resolução 4K, uma melhoria em relação à resolução atual de 1080p (vulgo "full HD"). Já lhe começaram a chamar a PlayStation 4K.
As fontes do rumor terão sido "pessoas com conhecimento sobre o assunto", e nestas coisas dos videojogos e da tecnologia não faltam exemplos de rumores que se revelaram verdadeiros. O que falta claramente em quase todas as notícias veículadas sobre este assunto é um mínimo de sentido crítico.
O próprio Wall Street Journal começa o seu artigo por afirmar que "os tempos em que se esperavam 6 anos ou mais pelo lançamento de uma nova consola estão a chegar ao fim". Praticamente todas as notícias referem que a nova PlayStation 4, mais potente, permitiria correr jogos em resolução 4K e melhoraria o desempenho dos óculos de realidade virtual PlayStation VR. Será mesmo assim?
Não me parece.
Em primeiro lugar, a mais-valia das consolas é o seu hardware ser estável. A ideia de ir atualizando as capacidades de uma consola de videojogos não faz sentido e ainda recentemente expliquei porquê no seguimento de comentários nesse sentido por parte do responsável da Xbox. Leiam o artigo se quiserem mais pormenores, mas basicamente, e ao contrário do que possa parecer, não haver atualizações é uma vantagem e não uma desvantagem.
A outra falha de raciocínio nesta ideia é achar que, havendo mais capacidade de processamento disponível na consola, essa capacidade extra seria usada para aumentar a resolução. Não é assim que as coisas funcionam na realidade: na prática os criadores de videojogos preferem quase sempre reduzir a resolução dos jogos para poderem aumentar os "efeitos visuais". Ou seja, perde-se um bocadinho na resolução mas ganha-se muito na beleza e fidelidade gráfica. A maioria das pessoas vai notar a diferença visual em termos de beleza, mas não notaria a diferença na resolução da imagem. Aliás, esse é um dos motivos pelos quais os filmes em Blu-Ray não tiveram uma adesão tão grande por parte do público como quando se mudou do VHS para o DVD.
Mas então afinal o que é que poderá ser esta PlayStation 4K ou 4,5?
A hipótese que me parece mais viável é uma que apenas vi referida timidamente nas secções de comentários de dois ou três artigos sobre o tema: os filmes.
Ainda há muito pouco conteúdo de vídeo em resolução 4K mas 2016 parece ser o ano da mudança. Até ao final do ano deverão começar a ser lançados filmes em Blu-Ray 4K, uma nova versão dos discos Blu-Ray com maior capacidade, que trará os filmes em resolução Ultra HD. Só que estes discos Blu-Ray 4K não podem ser lidos pelos leitores Blu-Ray atuais. É preciso um leitor novo, compatível com o novo formato.
E é quase de certeza isso que a Sony está a preparar: uma versão da PlayStation 4 com uma drive Blu-Ray 4K e capaz de emitir imagem para a televisão em resolução 4K. Duas pequenas melhorias sem impacto nos jogos, mas que aumentarão em muito a proposta de valor da PlayStation 4: um leitor de Blu-Ray 4K relativamente barato que ainda por cima corre jogos.
Ah, e a Sony também anunciou ontem o lançamento do seu serviço de filmes 4K por streaming.
Um modelo da consola com funcionalidades multimédia adicionais nem seria inédito: já houve a PSX, que era uma consola PlayStation2 com funcionalidades de videogravador.
E é isso. Ou então vou ter uma grande surpresa... Quero dizer... A Sony há tempos lançou a PSP Go, uma versão da PlayStation Portable que fazia menos coisas, era mais cara e ainda nos obrigava a comprar outra vez os jogos que já tínhamos. As marcas às vezes fazem coisas que desafiam a lógica.